Transitividade verbal é um dos conteúdos que você não pode deixar de estudar, caso esteja se preparando para o Enem ou para o vestibular. A forma como os verbos se relacionam com seus complementos, se há ou não exigência de preposição e as alterações de sentido provocadas pelos tipos de uso é o que é preciso saber não só para as provas de Português, como também para a elaboração da redação.
Erros de português não são bem-vistos em situações formais, concorda? E os erros relacionados à regência verbal, ao uso ou não de preposição antes dos verbos, são penalizados nas provas de vestibular. Por isso, neste post você vai entender esses pontos para não errar mais no assunto. Vamos lá?
O que é transitividade verbal?
Para entender a transitividade verbal, é preciso saber que o texto é formado por relações que se estabelecem entre suas palavras, que não aparecem soltas nele. Os verbos também estabelecem relações com os seus complementos ou sem eles.
A essa relação do verbo com o complemento damos o nome de transitividade verbal. Quanto à transitividade verbal, o verbo pode ser:
- intransitivo;
- transitivo direto;
- transitivo indireto;
- transitivo direto e indireto;
- de ligação.
Calma! Neste post, estudaremos cada um deles. Para isso, escolhemos o poema Mãos dadas, de Carlos Drummond de Andrade, que nos faz um convite a viver o presente e, ao mesmo tempo, pede que rejeitemos as dificuldades: “Não serei o poeta de um mundo caduco”. Trabalhar a transitividade é, também, trabalhar questões semânticas — como veremos a seguir.
Quais são as transitividades do verbo?
Durante a preparação para as provas, deve ter incluído em seu plano de estudos do Enem a sintaxe e a morfologia, partes essenciais nos estudos da Gramática. Então para entender o que é transitividade verbal, trouxemos este poema, ao qual retornaremos ao longo do post.
Mãos Dadas
Carlos Drummond de Andrade
Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes
A vida presente
Verbo intransitivo
Segundo a gramática tradicional, verbo intransitivo é o verbo que não necessita de complemento obrigatório para produzir sentido. Veja:
[…] vamos de mãos dadas
Não fugirei para as ilhas
Observe que os verbos são intransitivos, pois podem prescindir de complementos. Em “vamos de mãos dadas”, “de mãos dadas está acompanhando o verbo, mas não é complemento dele, ou seja, não é exigido por ele sintaticamente.
Nesse caso, esse termo mostra o modo como eles vão, sendo, portanto, de natureza circunstancial. O mesmo acontece em “Não fugirei para as ilhas”: “para as ilhas” é o lugar para onde ele não fugirá, sendo também de natureza circunstancial.
Verbo transitivo direto
Verbo transitivo direto é o verbo que necessita de complemento obrigatório, mas não de preposição. Observe:
Também não cantarei o mundo futuro
[…] nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
Não direi os suspiros ao anoitecer,
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Todos os verbos desses exemplos são transitivos diretos, pois seus complementos não são acompanhados de preposição. Faça a clássica pergunta ao verbo: quem canta, canta o quê? Quem nutre, nutre o quê?, e assim por diante. Contudo, lembre-se de que é o contexto que vai lhe dar a resposta.
Veja o que acontece em “Também não cantarei o mundo futuro”: o mundo futuro é o que o sujeito não vai cantar, sendo o complemento desse verbo nesse poema. Observe que essa frase poderia ser “Não cantarei”, sendo, portanto, intransitivo. Isso mostra para nós que a transitividade verbal deve ser olhada no contexto de uso do verbo, pois pode variar.
Os outros verbos do exemplo têm sua dependência do complemento mais flagrante. Veja:
- Nutrem. Nutrem o quê? Grandes esperanças.
- Considero. Considero o quê? A enorme realidade.
- Direi. Direi o quê? Os suspiros.
- Distribuirei. Distribuirei o quê? Entorpecentes ou cartas.
Os termos que se referem são objetos diretos, complementos do verbo transitivo direto. Observe que nenhum deles aparece comandado por uma preposição.
Verbo transitivo indireto
Verbo transitivo indireto é o verbo que necessita de complemento obrigatório regido por uma preposição. Observe:
Não necessito do passado e do futuro.
Gosto de cantar o presente
Os verbos “necessitar” e “gostar” são transitivos indiretos e exigem um complemento regido por preposição (do passado; de cantar o presente). A preposição “de” é exigida pela regência desses verbos. Os termos entre parênteses são objetos indiretos, complementos do verbo.
Verbo transitivo direto e indireto
O verbo transitivo direto e indireto necessita de dois complementos: um sem preposição e outro regido por uma preposição. Observe que o verso poderia ser assim:
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida para ninguém.
Essa alteração do verso de Drummond produziria um verbo transitivo direto e indireto. O complemento “para ninguém”, regido pela preposição “para”, se encaixaria como objeto indireto.
Distribuirei o quê? Para quem? Assim, o verbo passaria a ter dois complementos, sendo “entorpecentes ou cartas de suicida” objeto direto e “para ninguém” objeto indireto.
Verbo de ligação
Por fim, os verbos de ligação são aqueles que ligam o sujeito ao seu predicativo, palavra ou expressão que no predicado caracteriza o sujeito. Vejamos:
Não serei o poeta de um mundo caduco
Estou preso à vida
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história
O sujeito dessas orações é o “eu” que fala no poema. Podemos chamá-lo de eu lírico.
“O poeta de um mundo caduco”, “preso”, “o cantor de uma mulher, de uma história” são predicativos, características desse sujeito, e a função do verbo ser e estar nessas frases foi ligar as duas partes: sujeito e predicativo do sujeito.
Como vimos e exemplificamos pela maioria dos verbos usados por Drummond, a predicação ou transitividade verbal é parte importante do texto, estando diretamente ligada aos sentidos por ele expresso.
Não será cobrado o conteúdo de forma conceitual na prova de Português no Enem nem na produção da redação, no entanto, o conhecimento desse assunto é fundamental para a elaboração do texto.
Como esse assunto pode cair no Enem?
Como mencionamos, os conceitos de transitividade verbal não serão cobrados no Enem nem no vestibular, mas sim o uso adequado à norma-padrão ou à variante linguística adequada, de modo a evitar a ocorrência de preconceito linguístico.
Outra forma de cobrança sobre transitividade verbal é em relação ao significado estabelecido pela ausência ou substituição da preposição. Veja os exercícios seguintes.
Enem 2012:
Cabeludinho
Quando a Vó me recebeu nas férias, ela me apresentou aos amigos: Este é meu neto. Ele foi estudar no Rio e voltou de ateu. Ela disse que eu voltei de ateu. Aquela preposição deslocada me fantasiava de ateu. Como quem dissesse no carnaval: aquele menino está fantasiado de palhaço. Minha avó entendia de regências verbais. Ela falava de sério. Mas todo-mundo riu. Porque aquela preposição deslocada podia fazer de uma informação um chiste. E fez. E mais: eu acho que buscar a beleza nas palavras e uma solenidade de amor. E pode ser instrumento de rir. De outra feita, no meio da pelada um menino gritou: Disilimina esse, Cabeludinho. Eu não disiliminei ninguém. Mas aquele verbo novo trouxe um perfume de poesia à nossa quadra. Aprendi nessas férias a brincar de palavras mais do que trabalhar com elas. Comecei a não gostar de palavra engavetada. Aquela que não pode mudar de lugar. Aprendi a gostar mais das palavras pelo que elas entoam do que pelo que elas informam. Por depois ouvir um vaqueiro a cantar com saudade: Ai morena, não me escreve/ que eu não sei a ler. Aquele a preposto ao verbo ler, ao meu ouvir, ampliava a solidão do vaqueiro.
BARROS, M. Memórias inventadas: a infância. São Paulo: Planeta, 2003.
No texto, o autor desenvolve uma reflexão sobre diferentes possibilidades de uso da língua e sobre os sentidos que esses usos podem produzir, a exemplo das expressões “voltou de ateu”, “disilimina esse” e “eu não sei a ler”. Com essa reflexão, o autor destaca:
a) os desvios linguísticos cometidos pelos personagens do texto.
b) a importância de certos fenômenos gramaticais para o conhecimento da língua portuguesa.
c) a distinção clara entre a norma culta e as outras variedades linguísticas.
d) o relato fiel de episódios vividos por Cabeludinho durante as suas férias.
e) a valorização da dimensão lúdica e poética presente nos usos coloquiais da linguagem.
Resposta: letra e. É preciso ter noção de regência dos verbos (e sua transitividade) para perceber que o uso coloquial da linguagem passa a ser valorizado pelo personagem-narrador a partir da fala de sua avó: “voltou de ateu”, e não “voltou ateu”.
PUC-SP:
- “… principiou a segunda volta do terço.”;
- “Carrocinhas de padeiro derrapavam nos paralelepípedos.”;
- “Passavam cestas para o Largo do Arouche.”;
- “Garoava na madrugada roxa.”
Os verbos são, respectivamente:
a) transitivo direto, transitivo indireto, transitivo direto, intransitivo.
b) intransitivo, transitivo indireto, transitivo direto, intransitivo.
c) transitivo direto, intransitivo, transitivo direto, intransitivo.
d) transitivo direto, intransitivo, intransitivo, intransitivo-impessoal.
e) transitivo indireto, intransitivo, transitivo indireto, transitivo indireto.
Resposta: letra c.
Muito bem, agora você já sabe tudo sobre a transitividade verbal! Porém, para se preparar melhor para o Enem e para os vestibulares, procure fazer simulados e assistir a aulas e a questões comentadas online. O Trilha do Enem ajuda você a organizar seus estudos e a não deixar de fora nenhuma matéria. Não perca essa oportunidade de estudar em casa!
Aliás, que tal continuar estudando Língua Portuguesa conosco? Veja, agora, como o adjunto adnominal cai no Enem!