Já parou para pensar sobre como é diferente contar uma história pelo seu ponto de vista ou dando voz aos personagens que fazem parte dela? Essa diferença é, basicamente, o que justifica o emprego do discurso direto e indireto.
Do ponto de vista formal, ambos têm a mesma função: inserir falas e pensamentos de personagens em textos narrativos. Repare que esse tipo de texto não precisa ser ficcional: o jornalismo está cheio de exemplos desses tipos de discurso e também de um terceiro, o discurso indireto livre, sobre o qual vamos falar neste artigo.
Leia até o fim e saiba como identificar os diferentes tipos de enunciações discursivas, para que servem, que efeitos provocam no leitor e por que podem ajudar a melhorar tanto a sua escrita quanto a interpretação de texto.
Pode ter certeza também de que o conhecimento deste conteúdo vai ajudar e muito na sua prova de redação do Enem!
Quais são as diferenças entre os discursos direto e indireto?
Vamos começar conceituando cada um deles e dando exemplos, para que você compreenda exatamente qual é qual. O discurso direto acontece quando a fala de um personagem é apresentada com o uso de dois-pontos, aspas e travessão:
Antônio disse:
— Vocês estão julgando esta moça sem saber da história toda!
“Vocês estão julgando esta moça sem saber da história toda”, disse Antônio.
Repare que o mesmo trecho pode ser representado utilizando aspas ou o travessão, e que a mudança de um para outro tem fins meramente estilísticos, não alterando o sentido do que é dito ou contado.
As palavras que introduzem ou explicam o que é expresso no discurso direto (disse, respondeu, redarguiu, falou, afirmou etc.) são chamadas de “verbos de elocução”. Esses verbos podem vir antes ou depois da fala dos personagens, o que fica a gosto do autor.
Já no discurso indireto, o próprio narrador é responsável por explicar a fala dos personagens, o que confere um certo distanciamento àquele trecho da narrativa e seus elementos. Vamos transpor o exemplo acima para o discurso indireto:
Antônio disse a eles que estavam julgando a moça sem saber da história toda.
Repare que, nesse caso, os verbos de elocução também são usados, porém, separam-se da fala dos personagens pelo uso das conjunções adverbiais, como “que”, “se”, “onde” etc.:
Antônio perguntou a eles se não estariam julgando a moça sem saber da história toda.
O que é o discurso indireto livre?
Atuando como uma forma de meio-termo entre os dois tipos anteriores, temos o discurso indireto livre. Ele também é uma forma de o narrador introduzir as falas e as situações, mas, nesse caso, há uma mescla entre quem narra e o personagem da história.
Ou seja, por alguns instantes, é como se o narrador assumisse o papel do personagem para retratar tão fielmente seu ponto de vista que ambos parecem a mesma pessoa, ao menos naquele momento. Vejamos alguns exemplos de uso do discurso indireto livre:
Otávio mal podia andar pela rua com aquele sapato apertado. Que dor horrível nos calcanhares!
Que sono! Cíntia sabia que precisava estar bem para o encontro, mas era como se seu corpo não respondesse ao que a cabeça queria fazer.
Avaliando que as palavras de Jonas sobre a mulher eram covardes e rasteiras, Márcio pensou em se manifestar. Como alguém pode ser tão idiota?
Repare que, no discurso indireto livre, não há o uso de dois-pontos, aspas ou travessões. Também não é necessário fazer uso das conjunções adverbiais.
Quando utilizar cada um?
Resumindo, podemos dizer que o discurso direto permite que os personagens falem em primeira pessoa, enquanto o indireto é caracterizado pela narração em terceira pessoa. No primeiro caso, o tempo verbal é aquele da ação como vista pelo personagem.
No segundo caso, o tempo verbal utilizado é quase sempre o passado, já que o narrador conta como algo aconteceu e daí o seu distanciamento, tanto emocional quanto temporal.
O discurso direto é menos fluido, e são comuns na Literatura casos em que a ação é descrita apenas pelas falas dos personagens. O autor gaúcho Luis Fernando Verissimo utiliza-se muito desse tipo de técnica discursiva, e alguns de seus contos nem mesmo têm a presença do narrador.
Por outro lado, quando a proposta é apresentar uma narrativa com ritmo mais rápido e sem muitos meandros, o discurso indireto serve melhor.
O escritor carioca Rubem Fonseca, embora também faça uso dos diálogos nas suas narrativas, é conhecido por longos trechos narrados de forma indireta. Além dele, nesse mesmo sentido, temos também o exemplo do autor português José Saramago e do alemão Franz Kafka.
Como transpor o discurso direto para o indireto e vice-versa?
Praticamente qualquer trecho que esteja no discurso direto pode ser transposto para o discurso indireto e vice-versa. Então, optar por um ou outro, como dissemos, é uma questão estilística, assim como acontece com as figuras de linguagem.
O discurso direto é melhor para aproximar o leitor dos personagens, ao permitir que eles falem por si na narrativa. O discurso indireto, por sua vez, é mais “frio” e direto ao ponto, conferindo, portanto, mais fluidez e ritmo a uma história.
Ao transpor entre um e outro, algumas regras devem ser observadas. O discurso direto pede o uso de dois-pontos antes das falas dos personagens. É claro que, em alguns momentos, eles podem ser omitidos, mas devem estar pressupostos. O mesmo acontece com os verbos de elocução. Veja o trecho abaixo:
Lívia vasculhava as gavetas da escrivaninha.
“Onde estão os arquivos?”
Trata-se de um caso em que os dois-pontos foram omitidos, assim como o verbo de elocução. Obviamente, as aspas ou o travessão continuam sendo necessários, e não podem deixar de ser empregados.
Ao transpor um trecho como esse para sua versão indireta, lembre-se de empregar as conjunções adverbiais de que falamos no primeiro tópico deste texto (por que, onde, que, em que etc.):
Lívia vasculhava as gavetas da escrivaninha e perguntava onde estão os arquivos.
Silas quis saber por que as entregas não chegaram a tempo.
Pedro pediu que sua prima fosse atendida primeiro.
Se estiver bem afiado no uso do discurso direto e indireto, você vai aproveitar muito melhor a seu exame de Linguagem, Códigos e suas Tecnologias. Afinal, contar uma história de maneira adequada é a base para uma boa performance de redação e no vestibular. Não se esqueça de treinar suas habilidades com os simulados do site Trilha do Enem!
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